No dia 05 de junho, comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente.  A data foi instituída em 1972, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, Suécia.  Tem como objetivo chamar a atenção do planeta sobre os problemas ambientais e a importância da preservação dos recursos naturais.

A Igreja, presente e atuante no mundo, também preocupa-se com o cuidado do meio ambiente, com as mudanças climáticas e com as suas consequências sobre a vida humana, sobretudo os mais pobres.  Criada à imagem e à semelhança de Deus, a pessoa humana tem uma dignidade inviolável e é sua responsabilidade cuidar e proteger a criação, manifestação do amor e da ternura Deus.

São conhecidas as iniciativas da comunidade eclesial brasileira, como as Campanhas da Fraternidade, em busca da conscientização dos fiéis sobre temáticas sociais, muitas das quais relacionadas ao meio ambiente. Já em 1986 se falou sobre a temática da terra: “Fraternidade e a terra”. Num passado mais recente, na campanha 2004 abordou-se a temática da água, na de 2007 a questão da Amazônia e na de 2011 a vida no planeta.

 No âmbito universal, a carta encíclica ‘Laudato Sí’ do Papa Francisco faz-nos um clamor à consciência e à mudança frente o mal que provocamos contra a Terra, nossa casa comum, devido o uso irresponsável e ao abuso dos bens que Deus nela colocou.

Esse documento do Magistério Social da Igreja, embora seja o primeiro exclusivamente dedicado à questão ambiental, coloca-se na esteira de outros documentos e pronunciamentos pontifícios, tendo como ponto de partida a Pacem in Terris, de São João XXIII, em 1963.

Indagando-nos sobre o que está a acontecer com a nossa casa, o Santo Padre Francisco reconhece que, embora a mudança faça parte da dinâmica dos sistemas complexos, a velocidade das mudanças produzidas pelas ações humanas contrasta com a lentidão natural da evolução biológica. Além disso, os objetivos desta mudança rápida e constante não estão orientados para o bem comum e para o desenvolvimento humano sustentável e integral. A poluição, a produção de resíduos e a cultura do descarte, por exemplo, causam inquietação porque se transformam em sofrimento social.

Também o clima é um bem comum. A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e consumo para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou acentuam. O trágico aumento de imigrantes em fuga da miséria agravada pela degradação ambiental é um exemplo das consequências desse problema. Muitos daqueles que detêm mais recursos e poder econômico ou político parecem concentrar-se, sobretudo, em mascarar os problemas ou ocultar os seus sintomas, procurando apenas reduzir alguns impactos negativos de mudanças climáticas.

Também os recursos da Terra estão sendo desprezados por causa das formas imediatistas de entender a economia e a atividade comercial e produtiva. Visto que todas as criaturas estão interligadas, deve ser reconhecido com carinho e admiração o valor de cada uma, e todos nós, seres criados, precisamos uns dos outros.

O impacto dos desequilíbrios atuais manifesta-se também na morte prematura de muitos pobres, nos conflitos gerados pela falta de recursos e em muitos outros problemas que não tem espaço suficiente nas agendas mundiais. Hoje não podemos deixar de reconhecer que uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres. Não há fronteiras nem barreiras políticas ou sociais que permitam isolar-nos e, por isso mesmo, também não há espaço para a globalização da indiferença.

Não podemos pensar que os programas políticos ou a força da lei sejam suficientes para evitar comportamentos que afetam o meio ambiente, porque o quando é a cultura que se corrompe deixando de reconhecer qualquer verdade objetiva ou quaisquer princípios universalmente válidos, as leis só poderão ser entendidas como imposições arbitrárias e obstáculos a evitar.

A terra que recebemos pertence também àqueles que hão-de-vir. Não basta dizer que devemos preocupar-nos com as gerações futuras; exige-se ter consciência de que é nossa própria dignidade que está em jogo. Somos nós os primeiros interessados em deixar o planeta habitável para a humanidade que vai nos suceder. A dificuldade em levar a sério este desafio tem a ver com uma deterioração ética e cultural, que acompanha a deterioração ecológica, mas, para além de uma leal solidariedade entre as gerações, há que reafirmar a urgente necessidade moral de uma renovada solidariedade entre os indivíduos da mesma geração.

A grandeza política mostra-se quando, em momentos difíceis, se trabalha com base em grandes princípios e pensando no bem comum a longo prazo.

A atitude basilar de auto-transcender, rompendo com a consciência isolada e a auto-referencialidade é a raiz que possibilita todo o cuidado dos outros e do meio ambiente e faz brotar a reação moral de ter em conta o impacto que possa provocar cada ação e decisão pessoal. Quando somos capazes de superar o individualismo, pode-se realmente desenvolver um estilo de vida alternativo e torna-se possível uma mudança relevante na sociedade.

A consciência da gravidade da crise cultural e ecológica precisa traduzir-se em novos hábitos e tende a recuperar os distintos níveis de equilíbrio ecológico: o interior consigo mesmo, o solidário com os outros, o natural com todos os seres vivos, o espiritual com Deus. É muito nobre assumir o dever de cuidar da criação com pequenas atitudes diárias, e é maravilhoso que a educação seja capaz de motivar para elas até dar forma a um estilo de vida.

É importante adotar um antigo ensinamento e convicção de que “quanto menos, mais”. A acumulação constante de possibilidades para consumir distrai o coração e impede de dar o devido apreço a cada coisa e a cada momento. A espiritualidade cristã propõem um crescimento na sobriedade e uma capacidade de se alegrar com pouco. Isto exige evitar a dinâmica do domínio e da mera acumulação de prazeres. A sobriedade vivida livre e conscientemente, é libertadora!

O cuidado com a natureza faz parte de um estilo de vida que implica capacidade de viver juntos e de comunhão. Uma ecologia integral é feita também de simples gestos cotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração e do egoísmo. O amor, cheio de pequenos gestos de cuidado mútuo, é também civil e político, manifestando-se em todas as ações que procuram construir um mundo melhor. Por isso a Igreja propôs ao mundo o ideal de uma “civilização do amor”. O amor social é a chave para um desenvolvimento autêntico.

 

 

 

Pe. Renan Rangel

Reitor do Seminário Bom Jesus